
Em foto de 2004, modelo mostra o "Airboard LF-X1", da Sony
Foto: AFP
Se a Sony tivesse persistido com o computador port?til Airboard, que lan?ou em 2000, Satoru Maeda, e n?o Steve Jobs, da Apple, talvez estivesse sendo celebrado como o criador do tablet. "Eu inventei o Airboard," disse Maeda entre garfadas de camar?o frito e bolinhos em um restaurante chin?s no centro de T?quio. Ele estava se referindo a um aparelho dotado de tela plana que precedeu o iPad por uma d?cada e oferecia v?deos, tela de toque para digita??o e acesso ? internet.
O pre?o salgado e a qualidade de imagem prec?ria foram dois dos motivos para que o produto - que em retrospecto parecia estar adiante de sua era - n?o tenha decolado com rapidez. Disputas pol?ticas internas e uma s?rie de reorganiza??es divisionais que causaram perturba??es na companhia garantiram que ele jamais recebesse a aten??o de que necessitava para conquistar o sucesso, segundo Maeda.
A transforma??o do Airboard em Location Free TV - um aparelho que permitia assistir canais de TV locais em qualquer lugar - n?o bastou para convencer a Sony ou o mercado de que a ideia funcionaria. O projeto, que chegou a ser alardeado como t?o revolucion?rio quanto o Walkman, foi inteiramente abandonado em 2008.
Maeda disse saber um ano antes que a Sony, sob o comando de Howard Stringer - que se tornou presidente-executivo em 2005 -, abandonaria sua inven??o, depois de receber um e-mail de seu chefe. Pouco depois, Maeda deixou a empresa para a qual havia trabalhado desde 1979, quando a Sony lan?ou o Walkman e se tornou uma das empresas mais atraentes do mercado.
Foi um per?odo de gl?ria que Stringer prometeu retomar, mas que Maeda, hoje executivo da fabricante de equipamentos audiovisuais Kenwood JVC, n?o acredita que volte. "A velha guarda da Sony gostava do Airboard e do Location Free TV porque eram produtos novos, e era isso que a Sony fazia," disse Maeda. "O pessoal que comanda a Sony atualmente n?o tem experi?ncia com essas coisas, porque n?o introduzem produtos novos h? cerca de dez anos."
Assim, Maeda e outros ex-funcion?rios da Sony insistem que sua antiga empregadora enfrenta s?rias dificuldades e que Stringer, 69, n?o tem mais muito tempo para cumprir sua promessa de reinventar a empresa. ? certo que Stringer pode alardear seu papel no desenvolvimento dos filmes 3D e a vit?ria do padr?o Blu-Ray, promovido pela Sony, na guerra dos formatos de v?deo de nova gera??o. Mas a companhia continua defasada em rela??o ao restante do setor da tecnologia, e seu talento para desenvolver inova??es que atraiam o p?blico praticamente se evaporou.
Um esc?ndalo causado por ataques de hackers em abril exp?s mais de 100 milh?es de contas da rede online de videogames da empresa a poss?vel roubo de dados e, n?o s? prejudicou sua imagem, como representa amea?a para a estrat?gia online que tem por objetivo unificar uma corpora??o diversificada.
Os problemas podem prejudicar o plano de sucess?o cuidadosamente preparado para quando Stringer se aposentar. E n?o s?o apenas antigos executivos do grupo que veem a magnitude de seus problemas. Uma sucess?o de importantes executivos de empresas norte-americanas de tecnologia, falando no Reuters Global Technology Summit, uma semana atr?s, n?o mediram palavras quando questionados sobre a Sony. Robert Glaser, presidente do conselho da RealNetworks, companhia de software de m?dia para a internet, comparou a tarefa de Stringer na reabilita??o da Sony a "introduzir o capitalismo no bloco sovi?tico depois de 50 anos de comunismo."
A eros?o da posi??o da Sony serve como alerta do que pode acontecer a empresas de tecnologia que perdem seus l?deres inovadores. Quando a Sony, comandada por seu co-fundador Akio Morita, lan?ou o Walkman, a empresa serviu de inspira??o aos fundadores da Apple Computers, uma empresa min?scula que acabava de ser criada nos Estados Unidos. "A Sony tinha os produtos mais incrivelmente bem planejados do mundo. Quer?amos ser como eles desde o primeiro dia," disse Steve Wozniak, co-fundador da Apple, em entrevista recente ? Reuters.
Na ?poca, "nenhuma outra empresa no mundo podia servir de modelo para os bens eletr?nicos de consumo." A Sony continuou a servir como refer?ncia ao longo dos anos 80, quando Morita transferiu o comando criativo ao exc?ntrico Norio Ohga, que havia estudado para ser cantor de ?pera e chamou a aten??o do fundador ao escrever para a empresa se queixando da qualidade de suas fitas cassete. Mas esses sucessos resultaram em complac?ncia. "Se voc? tivesse a marca Sony na camisa, tudo estava bem e, por isso, eles pararam de pensar," disse Maeda.
Em 1989, a expans?o da economia japonesa come?ou a enfrentar obst?culos e a Sony cometeu seu primeiro grande erro, ao adquirir o est?dio cinematogr?fico norte-americano Columbia Pictures, junto ? Coca-Cola, por 3,9 bilh?es de d?lares. Cinco anos mais tarde, Ohga transferiu o comando a Nobuyuki Idei, e a Sony teve de registrar preju?zo de 2,7 bilh?es de d?lares com a aquisi??o, depois de uma s?rie de fracassos de bilheteria.
Em 2000, antes do lan?amento do iPod, o valor de mercado da Sony era sete vezes maior que o da Apple. Hoje, sua capitaliza??o equivale a apenas 9% ? da empresa norte-americana, e os pre?os de suas a??es pouco mudaram desde 1995. Discutindo o futuro da empresa no jantar em T?quio, Maeda, o criador do Airboard, demonstra pessimismo. "N?o creio que a Sony possa mudar," afirmou. A menos, acrescentou, "que encontre um l?der como Steve Jobs."
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